sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

EDIPIANA

Arrumei todas as gavetas
e numa delas encontrei
as mãos brancas de minha avó.
virei sapatos,
achei ratos e fósseis de gat num porão.
Num canto de guarda-roupa
deparei com um quadro velho
onde se desenhgavam os olhos de
minha mãe.

Também vi gavetas
em formato de grandes bocas
a escrivaninha tatuada dos pés de eu pai
e eu, envergada sobre uns livros
brancos e negros
de poesia e culinária.

Encontrei fugaz e na correria
minha primeira anágua,
- obra -prima da minha tia,
dedais ofrecendo-se para as cartilagens
já flácidas
e o sobretudo do vovô
que coloquei sobre o ombro
do meu amado para sair à chuva
numa estrada que não era a minha.
Há fumaça na chaminé.
O carvão é o mesmo das velhas árvores do sítio,
porém sinto um cheiro fátuo
da empregada que morreu bêbada
esperando um filho.
Meu Deus,
onde andam a minha bruxinha
e o pequeno terço de rezar
contra os demõnios das noites insones
de menina precocemente desperta?
O colt 44,
Marlon brando, Glen ford,
heróis favoritos
as minhas noites de velas e serenatas
estão só vívidas na memória.
Eu?
eu continuo no ar da respiração
densa e vertiginosa.
adeus,
vou rezar para Apolo
para que vele minhas noites
de sono solto e desacalmado.

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